quarta-feira, 28 de abril de 2010

Resenha sobre o texto:

Ciberespaço e Tecnologias Móveis.
Processos de Territorialização e Desterritorialização na Cibercultura
                                                                                                                André Lemos

É próprio do ser humano a necessidade de territorialização (afirmação de sua presença), bem como de desterritorialização desde sempre - enquanto me faço presente em um locus, me abstenho de estar ocupando outra qualquer posição, principalmente, no campo das idéias, já que, ao assumir um posicionamento ideólogico, automaticamente me excluo de outros posicionamentos - este processo não é novo e não começa com a tecnologia informacional; bem como as redes sociais,  eles sempre existiram. O que acontece com o evento do desenvolvimento das tecnologias informacionais é a expansão desse alcance, potencializado pelas tecnologias móveis, que já nos libertam quando excluem a necessidade, inclusive, de estar em frente a um pc (personal computer) para ‘interagir em rede’. Que o digam os desenvolvedores do movimento Hacker* - com tanta perseguição por parte das autoridades, sentiram primeiro a necessidade e controlar seus PCs à distância, pois assim, ao serem localizados pela Polícia Federal, já não estavam presentes na hora das ‘batidas policiais."

Segundo Lemos, as fronteiras podem ser vistas como delimitações físicas, sociais, simbólicas, culturais e subjetivas; visto a partir deste posicionamento, entendemos que:

criar um território é controlar processos que se dão no interior dessas fronteiras.” (LEMOS). 

Mas não podemos criar um território, sem primeiro desconstruir o espaço anteriormente ocupado; ao nos deslocarmos de um território a outro (físico ou não) estamos nos ausentando do anterior. Assim, a territorialização – desterritorialização – reterritorialização formam uma tríade, visto que são três processos diferenciados, porém interligados por sua lógica de construção/descontrução/re-constrição de símbolos, valores, e realidades.

“Quando podemos criar um ‘território’ podemos criar um mundo.” (LEMOS)

Estamos enfrentando um momento de transição, a sociedade saindo do século XX (desterritorialização), partindo em direção à construção de uma nova sociedade - Séc XXI – (reterritorialização). Uma sociedade que recupera o direito à fala (visibilidade para todos e todas), e apropria-se de bens culturais e simbólicos, reconfigurando-os de acordo com sua práxis. Uma sociedade que re-toma o espaço público de pertença quando age na rede em direção ao exercíco de seus direitos, resgatando o senso de sociedade civil (Bakunin), papel há tanto tempo abandonado pela sociedade do consenso (séc. XX, hegemonia cultural). A diversidade fica cada vez mais visível, à medida que novos atores sociais exercitam o direito autoral de seus valores e escolhem livremente (?) seus próprios caminhos. 

Uma nova cultura se instaura, a cibercultura - a cultura da libertação do homem, a cultura das exposições, dos enfrentamentos em espaço aberto, dos debates, das inter-relações (soa até novo tendo em vista que até pouco tempo encontravamo-nos ilhados pelo individualismo), dos compartilhamentos. Uma mudança está em curso: novas tecnologias, nova forma de produção, novos valores envolvidos, nova sociedade, nova forma de aplicar a ação política, novo Estado, novas fronteiras – processos paralelos e cíclicos, que se repetem ao longo da evoloução humana, sempre trazendo novos formatos. Estamos em meio à esta fusão de valores e ritmos, em plena etapa de desconfiguração da sociedade anteriormente ‘territorializada’ sobre outros patamares. Pode-se construir uma perspectiva para a sociedade futura, mas não podemos afirmar conclusivamente onde iremos chegar. A reterritorialização ainda não está concluída, ao passo que depende, necessariamente, da participação cada vez mais intensa e ativa da “sociedade em rede” (Castells – galáxia internet).


                                                                                                         Christyne Rodrigues

                             

*Nos anos 80 os Hackers foram perseguidos como criminosos do sistema. Mais tarde (já às portas do séc. XXI) é que começam a ser entendidos como frutos de uma necessidade social; estabelece-se então a distinção do Hacker (ciberativista) e do Cracker (criminoso da rede).

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