domingo, 10 de abril de 2011

Transmidiação e cultura participativa

A transmidiação das narrativas, sobre a qual Henry Jenkins discorre em seu livro “Cultura da Convergência”, consiste em adaptar uma produção (um filme ou um livro, por exemplo) para outras mídias. Jenkins usa o filme Matrix (1999) para falar no assunto; o longa-metragem fez tanto sucesso que exigiu, além de duas continuações - Matrix Reloaded (2003) e Matrix revolutions (2003) – versões para videogame e animações.

Outro bom exemplo de transmidiação acontece com o seriado The Simpsons, de Matt Groening. O desenho animado fez tanto sucesso entre o público após seu lançamento que foram fabricados, ao longo dos anos, inúmeros tipos de produtos baseados na série para agradar aos mais diversos nichos. São livros, jogos de tabuleiro, miniaturas, roupas, vídeo-games e até mesmo um longa-metragem, produzido recentemente. Não necessariamente, porém, esses produtos são totalmente fiéis ao desenho animado que inspirou sua criação. E não precisam ser, como afirma Jenkins em seu texto; quem assiste a The Simpsons, por exemplo, provavelmente irá gostar da versão em filme, mas pode não se interessar pelos livros que envolvem a série.

Porém, embora tenham sido usados acima um filme e uma série para falar em transmidiação, é possível relacionar o tema com a cultura participativa atual do público com instituições variadas. Explico: um jornal, por exemplo, como comentado em aula e reforçado pela colega Ana Carolina em seu texto, usufrui muito da recente prática de interatividade entre o leitor e a própria instituição. Foi citado o caso do jornal Zero Hora, o qual inicialmente distribuía apenas material impresso e, hoje, conta com website, Twitter, página no Facebook, entre outros meios que facilitam o contato com o leitor. Essa transmidiação do jornal concedeu grande abertura para a interação do público com a empresa. Assim, a colaboração do leitor não só com sua opinião, mas também com informações que podem ser agregadas às matérias elaboradas pelos jornalistas, mostra que o público não se satisfaz mais com a simples assimilação de informações; ele quer participar do processo de formação dessas últimas.

Tanto quanto os jornais, é comum hoje em dia que também as empresas que comercializam produtos e/ou serviços busquem uma maior proximidade com seu público. Há muito que o contato com o público não se restringe mais aos comerciais veiculados em mídia impressa ou na televisão. Além dos tradicionais SAC feito por telefone e o espaço para envio de mensagem no site, a maioria das corporações possui atualmente uma conta no Twitter para estabelecer contato direto com o consumidor. O uso dessa ferramenta demonstra preocupação com a opinião, comentários ou sugestões do público – que chega até a instituição através dos replies –, além de conferir certa credibilidade à empresa quando esta se mostra interessada nas manifestações dos seus consumidores.

Evidentemente, através da perspectiva mercadológica, é fácil compreender que, mais do que simplesmente mostrarem-se atenciosas com seu público, as empresas buscam a transmidiação como uma oportunidade de interagir com a sociedade das mais diversas formas para divulgar e fixar sua marca na lembrança do consumidor. Comerciais na televisão, nas revistas, virais no Youtube e posts no Twitter complementam-se a fim de transmitir plenamente ideias e informações. Um comercial da Havaianas que faz referência a sexo e que foi proibido na televisão, por exemplo, está disponível no Youtube – vale lembrar que a proibição do comercial e disponibilidade do mesmo na rede aumentaram a popularidade da propaganda em questão. A transmidiação, nesse caso, obteve êxito. Todavia, é necessário cuidado na administração dessa multiplicidade de ferramentas midiáticas.

Um exemplo disso é o caso da Skol, que ocorreu em setembro de 2010. No Twitter, a marca de cerveja soltou: “Vários “#FF” na timeline, alguém sabe o que isso quer dizer?”. A enxurrada de respostas do público foi enorme; todos indignados por acreditar que a Skol não tinha conhecimento de que o #FF servia para indicar, nas sextas-feiras, pessoas a serem seguidas no Twitter. Ao que a Skol responde “#FF significa que hoje é sexta-feira!!” (em outras palavras, mas a essência é a mesma). Como se vê, a intenção do tweet que gerou a polêmica foi boa, no entanto, muito passível de ser mal interpretada, e por pouco não se tornou um atestado de total falta de conhecimento de como funciona o microblog. Outros casos interessantes de má administração de Twitter, Facebook, entre outros, podem ser encontados no seguinte link: http://www.yogodoshi.com/blog/internet/cases-fail-midias-sociais.

A temática da cultura participativa através da transmidiação contempla uma série de discussões. Mas em suma, conclui-se que hoje a sociedade almeja participação e interação com instituições que antes se encontravam em um patamar reservado, longe da influência do público. Essa influência, por outro lado, tem sido muito usada de forma positiva pelas empresas para o seu próprio crescimento. Contudo, como tudo que é novo, a interatividade através das novas mídias deve ser realizada com cautela. Caso contrário, corre-se o risco de levar um #fail bem grande.

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